sexta-feira, 6 de março de 2009

Governo russo tenta tirar o país da liderança manguaça, tenta…

Os russos são considerados um dos povos que mais bebem no mundo. Há cálculos da década de 90 que indicam uma garrafa de vodca por homem adulto em idade produtiva por dia, em média.

Estudos mais recentes apontam 15 litros de álcool puro por ano para cada adulto do país. E outros levantamentos mais recentes dizem que tudo isto está subestimado, o que lhes daria liderança inconteste na área etílica mundial. Como sempre existem abstêmios, tem russo para tomar a cota alheia…

Um grande número de bêbados por lá são praticantes do chamado “zapoi”, que é o modo russo de encher a lata. O hábito consiste em dois dias ou mais de bebedeira.

O lado ruim é que metade das mortes de homens são causadas pelo álcool e até 90% das ausências no trabalho são resultado de bebedeiras homéricas – incluídos a ressaca e o efeito acumulado dos porres no tempo. Uma parte disso é decorrente do manguaça que enche a lata e termina a noite dormindo num banco de praça ou na rua. No inverno, isso é morte certa.

Nesse cenário, o governo russo de Dmitry Medvedev lançou em fevereiro uma campanha anti-álcool na TV pública Primeiro Canal. As peças lembram a campanha anti-tabagista praticada pelo Ministério da Saúde brasileiro desde 1996, com imagens chocantes de pessoas doentes e órgãos humanos deteriorados.

No caso das propagandas russas o foco são órgãos apresentados em animação feita por computador. O que encontrei foi sobre o cérebro, o coração e o sangue.

Segundo fontes não necessariamente confiáveis, a palavra água se diz “vodá” (ou “bodá”) em russo, que se diferencia da bebida mais popular por lá – cujo nome se originou na Polônia dois séculos antes.

Comunistas bêbados!
A expectativa de vida dos homens é de 60 anos, 13 a menos que a das mulheres. Foi por esse tipo de preocupação que o ainda soviético regime de Mikhail Gorbachev promoveu a última campanha antigoró de que se tem notícia. De 1985 a 1988, foram fechados estabelecimentos etílicos, a expectativa de vida aumentou, mas se estimulou o aumento do mercado negro e a produção de bebidas de fundo de quintal, as marias loucas de prisões brasileiras e suas variações.

É que na reta final da União Soviética, o custo de saúde pública por causa do álcool estava muito elevado. Alguns estudos apontam que de 1917 até a década de 80, o consumo da chambirra chegava a ser estimulado pelos comunistas.

Com Boris Ieltsin no poder, o combate à manguaça foi derrubado na sarjeta, talvez de ressaca.

Vladimir Putin chegou a passar uma lei em 2004 que proibia o consumo de bebidas na rua. Foi das poucas legislações que não pegaram na gestão do “marombado” ex-presidente. Tanto assim que a vodca que leva o nome do cidadão, a Putinka já tem 4% do mercado no país.

Presidentes lançando marcas próprias de manguaça? Hmmm… bom nicho. *

Pós-socialistas ainda mais bêbados
O pior é que pesquisadores da London School of Hygiene and Tropical Health descobriram que há muito mais opções de embriaguez praticadas por lá que nem entram na conta. Em entrevistas com as famílias de 3.500 homens (metade que tinha morrido nos anos anteriores, metade que estava ainda viva), eles constataram que as chances de morrer entre quem tinha problemas com o álcool era seis vezes maior.

Só que muitos consumiam tinturas de cabelo, perfumes e outros cosméticos à base de álcool – prática de alcoolatras do mundo todo.
Na pesquisa, isso significava nove vezes mais chances de bater as botas. Uma das frentes do governo é fechar fábricas de cosméticos que não informam corretamente a quantidade de álcool ou não dizem a que serve o produto. A suspeita é que alguns laboratórios andavam se aproveitando do interesse não-convencional para vender mais, porque os produtos eram mais baratos por volume etílico. E misturado com refrigerante, tem louco para tudo.

E a campanha?
A propaganda sobre o sangue (video anexo), é seguinte:

“Sob a influência de álcool, os glóbulos vermelhos se fundem. Como uma cola, eles se espalham por todos os órgãos e podem bloquear as veias. Começa a haver necrose das células por um veneno que atinge todos os tecidos do seu corpo. Os médicos chamam isso de ‘falta de nutrientes’, em casa, é chamado de ‘ressaca’”.

“Quando você consome 100g de vodca, cerca de 8 mil neurônios morrem. Depois de cada festa, mais de 10 mil células do cérebro mortas deixam seu corpo pela urina. Cuide-se.”

A eficiência da estratégia do medo em qualquer política antidrogas é sempre questionável, mas não é o tema aqui. Também não cabe exercer conhecimentos médicos que não tenho – conto com os nobres comentaristas para isso.

A idéia de perder o pouco de cérebro que me resta justamente na hora do alívio do xixi é trágica.

O que fazer: beber menos ou tentar ir menos vezes ao banheiro do bar?

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