quinta-feira, 5 de março de 2009

Seis graus de separação é uma fraude?

Eu já falei aqui da revista Discover (nada a ver com o Discovery Channel). Uma revista científica com um dos melhores textos que conheço. Em sua edição, tem uma matéria que põe por terra a badalada teoria “small world” de Stanley Milgram sobre os tais “seis graus de separação”. A teoria de 1967, não só embasa diversos livros da moda, como The Tipping Point, mas também virou peça de teatro, filme e ainda foi satirizada no jogo Seis Graus de Kevin Bacon.

Em resumo, se alguém não sabe, o que Milgram fez foi dar envelopes para 60 pessoas em Wichita. Esses envelopes deveriam ser entregues a um estranho, utilizando, para chegar até ele, apenas conhecidos dessas 60 pessoas. Em outro estudo, mais amplo, Milgram usou gente de Nebraska e Boston, para chegar a um estranho em Massachusetts. O resultado, é o que você imagina. Em nenhum caso, conforme reportou Milgram, foram necessários mais de 6 conhecidos. Em muitos casos, segundo ele, foram necessários muito menos…apenas dois ou três. Daí para estrapolar para o conceito de que qualquer um de nós está a apenas seis graus de um velho amigo de escola ou do Papa, foi um pulinho.
O fato é que a idéia de que vivemos numa aldeia, onde estamos quase todos de mãos dadas, ou que “o mundo é pequeno”, habita nosso imaginário. E a idéia dos seis graus de separação, pegou.
Mas infelizmente, como comprovou Judith Kleinfeld, uma professora de psicologia da Universidade do Alaska (também, né…no Alaska!), a teoria não se sustenta. Como ela descobriu? Bem, a história é longa...., mas em poucas palavras, Kleinfeld teve acesso ao material original de Milgram, que foi doado a Universidade de Yale após sua morte. Após estudar a fundo o trabalho, descobriu que muitos dos resultados que Milgram reportou, simplesmente não eram verdadeiros.

Por exemplo, do estudo original, apenas 3, dos 60 envelopes, chegaram ao destinatário. Além disso, Kleinfeld, ex-seguidora das teorias de Milgram, foi atrás de mais experimentos sobre o assunto e encontrou apenas dois. Um deles, do próprio Milgram. Kleinfeld alega ainda que a distribuição dos envelopes não era randomica e utilizava indivíduos de classes privilegiadas, que possuem, ao menos teoricamente, networks de relacionamento mais amplas. A matéria conclui com duas questões divertidas:
Se realmente estivessemos a apenas seis graus de separação, porque Bin Laden é tão difícil de encontrar?
E por que é tão sedutora a idéia de que estamos todos conectados?
Postado e ouvindo: Gas Panic – Oasis (live)

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