quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Janeiro já! Por favor!!

Dezembro é um mês mais chato do que jogo de xadrez transmitido pelo rádio. É um mês que lembra o sorriso descontraído de Geraldo Alckmin. Tenho umas mil e duzentas razões para querer despachar dezembro feito um ebó pesado na encruza. É por isso que sempre deixo aqui minha bronca contra essa modorra natalina da moléstia.
 
- Em dezembro você corre o risco de receber duzentos emails com um poema sobre a simplicidade da vida, do sujeito que na velhice se arrepende de não ter andado descalço, tomado banho de chuva, amado mais, cativado crianças, comido maçãs ao entardecer, soltado os cabelos ao vento e sorrido ao nascer do sol. Imaginem só tempo que te "roubam" fazendo você abrir essas correntes malditas...

- Toda família que se preza tem pelo menos uma tia velha que, no auge da festa de Natal, cai em prantos, anuncia que vai morrer e estraga a ceia. A frase é um clássico: Eu quero dizer pra vocês que esse é meu último Natal, ano que vem eu não estou mais aqui ... No ano seguinte lá está ela, vivinha da silva, anunciando a morte próxima e preparada, no fundo, para enterrar a família inteira.

- O sujeito jura que nunca mais entrará em amigo oculto, que vai romper com o consumismo e os cacetes. Balela. Tem sempre pelo menos um amigo oculto de família cuja participação é irrecusável. Para esculhambar tudo mais ainda, só mesmo a cena clássica do parente agregador que insiste em transformar a troca de presentes em um ritual fraterno e descontraído.

- O futebol para em dezembro. Não há campeonatos no Brasil. As noites de quarta e as tardes de domingo sem uma partidinha pra justificar a cerveja são tão emocionantes quanto uma corrida de camelos sob efeito de Lexotan.

- Shoppings são sucursais do inferno e os adultos realmente acham que as crianças gostam de tirar fotos com Papai Noel. Os moleques abrem o berreiro, os pais insistem, o Papai Noel tá doido pra enfiar a porrada no capeta mas tem que manter a pose para garantir os quitutes básicos da santa ceia. 

- Acabaram com as festas de Iemanjá que marcou durante décadas a virada do ano nas praias. As praias não têm mais terreiros na noite do dia 31. Eu quero de novo macumba na areia, com direito a Praianinha, charuto Índio, perfume de alfazema, leite de rosas pra mamãe sereia, cidra de macieira e barquinho comprado no Mercadão do Português.

- Em dezembro os casais de classe média se sentem mais a vontade para trocar juras de amor em público, geralmente com vozes infantis de erês de umbanda. Dá vontade de chegar junto e cantar pra criança subir. Poucas coisas despertam mais os meus piores instintos do que compartilhar o espaço com casais tagarelando como crianças, berrando publicamente seus apelidos e trocando o r pelo l feito o Cebolinha.

- Não dá pra ir com tranquilidade a restaurantes em dezembro. O perigo é encontrar uma festa de encerramento de ano do pessoal da repartição. Em meia hora os bebuns amadores (os bebuns de dezembro) chamam urubu de meu louro e começam a gritar. A funcionária padrão, que passou o ano todo tímida, solta a franga, enche a cara e ameaça fazer striptease pro chefe do almoxarifado ao som do funk das descontroladas. No ápice do fuzuê alguém grita que vai começar o amigo oculto. Não satisfeitos com a troca de presentes em público, os participantes ficam, aos berros, dando palpites sobre quem fulaninho tirou. Vômitos no final da maromba estão incluídos na conta.

- Dezembro é o mês em que todas as lojas do mundo colocam o cd que a Simone gravou com músicas natalinas [que reputo como um dos piores momentos do cancioneiro popular mundial] . O destaque é "Então é Natal" , a versão em português de uma música do John Lennon mais desagradável que tratamento de canal no dentista e mais melosa que pudim de guaraná Jesus. Simone termina a música gritando, inexplicavelmente, Hiroshima e Nagasaky. Eu até hoje só cogitei dar cabo à vida comendo veneno para matar piolhos [ e pretendia revelar isso apenas depois de morto, a um médium de mesa branca] em dois momentos: quando o Brasil perdeu o jogo para a Itália na Copa de 1982 e quando ouvi pela quinta vez seguida Então é Natal numa fila das Lojas Americanas.

- Podemos pular essa parte e começar o Janeirão já amanhã?!?!


Um comentário:

Gi disse...

Entao é Natallll !!!!
Calma, muita calma nesse momento MS!
15 dias passam rapido... rsssss