quarta-feira, 11 de março de 2009

BBB e a cultura da vigilância

O texto abaixo foi escrito e postado pelo amigo Fabrício Wolff em seu blog (http://fabriciowolff.blogspot.com)

Vivemos mais um período de Big Besteirol Baixo-nível (BBB), já em sua nona edição. A praga é global, mundial, mas em nosso verde-amarelo país a fórmula continua fazendo sucesso. Quando começou o programa este ano, fiz-me de rogado e prometi a mim que não escreveria sobre ele. Parece perda de tempo. Bem... acabo de quebrar a promessa. É impossível observar esta alienação nacional sem dizer algo.

Quebrei a promessa ao ouvir comentários sobre paredões, anjos, eliminações e briguinhas encomendadas pela produção do programa (que a maioria acha que são sérias), típicas de gente acéfala. Preso em minha recuperação do acidente, não assisti a um capítulo sequer, mas as notícias estão nos portais da internet, nos comerciais da Rede Globo e nos comentários de alguns.

Mas o que me fez quebrar a promessa foi ler* no blog do amigo Márcio Santos que a cada paredão, mais de R$ 8 milhões são despejados pelos brasileiros na conta da Globo, pelo telefone, na hora de votar. Sem falar em assinatura de tevê a cabo, pagar por mensagem de celular e outras formas de tirar dinheiro dos brasileiros com tamanho besteirol. Só esses R$ 8 milhões por paredão são, praticamente, toda a arrecadação anual da campanha Criança Esperança, feita de agosto a outubro, pela mesma emissora de tevê. E olha a diferença do objetivo...

Porém o enfoque que quero dar sobre o BBB, é outro. Penso que a crítica deve ser ampliada: o Big Besteirol Baixo-nível é apenas um produto feito sob encomenda para o entretenimento dos pobres de espírito e cultura e para o engrandecimento da "cultura da vigilância" (sistema de dominação pela vigilância do comportamento social). E aí está o primeiro problema: veja que grande massa de pobres de espírito e cultura existe neste Brasil.

A cultura da vigilância é algo que está incluído no sistema em que vivemos como forma de dominação e manutenção do status quo deste sistema. O livro intitulado "1984", escrito por Eric Arthur Blair sob o pseudônimo de George Orwell, em 1948, retrata uma sociedade totalitária do futuro, onde todos são controlados, o tempo todo, por câmeras de vigilância. Tal qual BBB, tal qual câmeras nas ruas, elevadores, salas de trabalho, nosso cotidiano cada vez mais atual. Não há mais necessidade de ditadura de um regime. A nova ditadura é a do comportamento social. Mais eficaz e de menor violência aparente.Cada vez mais acharemos normal sermos vigiados em elevadores, ruas, nossas casas... cada vez mais consideraremos normal que os outros se metam em nossa vida e definam nosso comportamento. E que façamos o mesmo com os outros.

Cada vez mais, moldaremos uns aos outros àquele tipo de comportamento que o sistema quer que tenhamos. E faremos isso naturalmente, acreditando ser necessário para a organização da vida em sociedade, crentes que vivemos a democracia prometida e considerando absolutamente normal sermos vigiados todo o tempo, a vida toda, em nossas mais cotidianas atitudes.

O "panóptico" de Michel Foucault lhe diz algo? O filósofo contemporâneo Paul Michel Foucault (1926/1984) criou a teoria do panóptico cuja base está no duo vigilância e punição. A vigilância, segundo ele, é a maneira de observar se a pessoa está cumprindo seus deveres. É um poder que atinge os corpos dos indivíduos através de seus gestos, discursos, atividades... tudo para evitar que algo contrário ao poder aconteça. A punição mete medo e garante a eficiência da vigilância.

O panóptico propõe a idéia de uma torre redonda em meio a um presídio, da qual se tem visão de todas as celas. Com vidros espelhados, os observados (no caso, detentos) sentem-se vigiados 24 horas por dia, sete dias por semana. E são punidos caso tenham comportamento desautorizado. Muito interessante quando se trata de apenados, não? Até aí, estamos falando de seres que cometeram crimes e a vigilância pode até ser necessária.

Pois transfiramos este mesmo controle panóptico às nossas vidas, como propõe Foucault. O ser, com uma enormidade de regras sociais pré-estabelecidas a cumprir, sendo pressionado a isso e vigiado, controlado por todos os seus pares (amigos, familiares, colegas de trabalho, vizinhos, desconhecidos, enfim, a sociedade). É isso que está acontecendo. A cultura da vigilância está a determinar nosso comportamento a cada instante.

Ah!, mas isso só traz a ordem social... é? Tem certeza? Você já notou que as pessoas, em sua grande maioria, não parecem mais demonstrar leveza, alegria, felicidade? Parecem tristes, nervosas, agressivas, egoístas, individualistas. Penso que a cultura da vigilância traz muito mais. Traz pessoas frustradas, depressivas e consumidoras de fluoxetina, drogas lícitas como o álcool e ilícitas como os entorpecentes. Traz pessoas infelizes, famílias com problemas e aumento do desinteresse e da violência em casa e nas ruas.

A pressão desespera as pessoas e a frustração faz com que fiquem depressivas. Tudo isso aumenta a violência, a desestabilidade social, mas não tira lucros das grandes corporações, nem crédulos das igrejas. Pelo contrário. O ser humano frágil e desesperado, porém obediente aos ditames sociais em sua vida cotidiana, é templo fácil para as artimanhas do capital e dos mistérios da fé. Basta adaptar o discurso e prática às suas necessidades. É o que vemos acontecer todos os dias.

E o que tem o Big Besteirol Baixo-nível a ver com isso? É a popularização da perfeita maneira de controle social, a cultura da vigilância, neste caso através do entretenimento, onde a Globo é apenas uma peça do sistema e a educação governamental pífia é outra. A falta de educação, de formação de capacidade para análise dos acontecimentos e criação de opinião própria, potencializa a pobreza de espírito e de cultura, próprios da falta de conhecimento.

Assim, não há como negar: a grande maioria do nosso povo cai como um patinho. Ninguém mais pensa, porque as pessoas são doutrinadas a não ter opinião própria. Agora "acham" o máximo a cultura da vigilância, que nem sabem o que é e que lhes faz infelizes cordeiros do sistema. E programas travestidos de leves e inofensivos como o BBB – um belo espécime de formar um bando lavadeiras fofoqueiras - caem como uma luva para o reforço da doutrina da vigilância, base do controle social moderno. Não é à toa que está disseminado pelo mundo.

* Clique aqui se quiser ler o artigo na qual o Fabrício se refere.

Um comentário:

Anônimo disse...

Disse tudo!!! Nem o Silvio Santos consegue ser tão repetitivo...rss
Nove BBB é dose neh?
Depois todos os anos a Globo, após o BBB, despeja esses "arroz-de-festas" que temos que "engolir" ...