quinta-feira, 11 de outubro de 2007

LUCIANO HUCK NO PAÍS DO ROLEX ROUBADO E DO COELHINHO IMORTAL


Luciano Huck não se deu conta do infeliz artigo que publicou na Folha de São Paulo, de 01/10/2007 – é lamentável a Folha publicar um artigo tão medíocre -, após ser assaltado no bairro dos Jardins, em São Paulo, no dia anterior. Levaram apenas o relógio. O apresentador se viu no direito de redigir um artigo que parecia mais uma novela mexicana, tamanha a dramaticidade contida naquelas palavras. “Deixaria órfã uma inocente criança. Uma jovem viúva. Uma família destroçada. Uma multidão bastante triste. Um governador envergonhado. Um presidente em silêncio”, afirmou Luciano. Será que Huck vive no mesmo mundo que nós? Será que ele assiste aos noticiários de TV e lê os jornais diariamente? Chega a ser ofensivo com aqueles que já perderam muito mais do que um relógio.
É inconcebível que num país como o Brasil, em que tantos crimes acontecem, desde roubos de relógios e carteiras até assaltos a residências seguidos de morte, seja necessário que uma celebridade venha a público com um discurso tão raso pedir “socorro” por causa de um rolex que ganhou de aniversário da esposa, a também apresentadora de TV, Angélica.
Enquanto isso morrem inocentes no meio da violência do tráfico de drogas que toma conta de algumas cidades do país, morrem também outros inocentes em hospitais sem nenhuma infra-estrutura. O que será que se passa na cabeça do Luciano Huck diante de tais notícias. Será que o apresentador sente a mesma indignação que tomou conta dele ao ser assaltado? Tantas desgraças acontecendo no mundo, tantas vítimas sofrendo diariamente com falta de condições básicas de sobrevivência, como saúde, alimentação e moradia. Qual o motivo do espetáculo? Apenas um relógio?
Vivemos num país onde o cenário é triste. São mendigos espalhados pelas cidades. São crianças descalças que rondam pelas ruas pedindo esmola e outras nos sinais de trânsito fazendo malabarismo para sobreviver. Sem falar dos que vivem em condições sub-humanas no interior do país.
Mas o apresentador deve realmente viver no mundo mágico da televisão, aquele que aparece nos comerciais de margarina. Na televisão tudo é montado e remontado. Grava ali e edita aqui. O programa semanal Caldeirão do Huck deve ser a contribuição de Luciano à sociedade. Através dos quadros do programa, o apresentador oferece dinheiro a pessoas – que em sua maioria passam por dificuldades financeiras – que precisam fazer malabarismos, como os meninos de rua, para ganhar um trocado. Sabe-se que Luciano não faz isso somente para ajudar as pessoas que se encontram em situação de precariedade. Faz isso em busca de audiência e para aumentar sua conta bancária.
Caldeirão do Huck tem média de audiência de 13 pontos contra 7 e 8 pontos das emissoras concorrentes. O programa faz parte do leque de programação da maior emissora do país, que está preocupada exclusivamente em multiplicar sua fortuna. E Luciano faz parte desse show.
O ciclo da vida - nascer, crescer e morrer – faz parte da realidade do ser humano, mas não da família Huck. Entre eles essa realidade tem sido ocultada. O animalzinho de estimação, um coelho, de Joaquim, filho de Luciano e Angélica, já morreu duas ou três vezes. Como assim? O coelho falece e Angélica coloca um outro “igualzinho” no lugar, para que seu filho não fique triste. São as frustrações que a vida traz para todos, seja rico ou pobre. Mas o casal Huck parece que tem levado a mágica da televisão para dentro de casa. Até quando Joaquim será protegido?
Nesse mesmo artigo da Folha, Luciano escreveu que seriam necessários apenas trinta dias para o Capitão Nascimento – personagem do filme Tropa de Elite – exterminar esse tipo de assalto a trausentes. Não é o Capitão Nascimento, nem nenhum outro “salvador da pátria”, que vai resolver o problema da violência. Nem a mágica inerente ao mundo televisivo. O que a sociedade brasileira precisa é de educação e justiça social.
Enquanto houver celebridades acumulando cifras e outros sobrevivendo com trocados, haverá violência. A desigualdade social é o mais grave problema que acomete a sociedade e não deixa de ser também uma forma de violência. Enquanto Joaquim está em casa sem saber que o seu coelhinho morreu – afinal, a morte faz parte da vida –, existe gente comendo o pão que o diabo amassou porque não teve oportunidades.
Luciano Huck pede que alguém o salve dessa barbárie. E quem nos salva da lógica perversa de Luciano Huck?
"Pago todos os meus impostos, uma fortuna. E, como resultado, depois do cafezinho, em vez de balas de caramelo, quase recebo balas de chumbo na testa"
LUCIANO HUCK
apresentador de TV, em artigo na Folha de São Paulo, depois de ter o relógio roubado em um sinal de trânsito.
"Queria ver o Luciano Huck escrevendo um texto tão indignado se presenciasse uma chacina no Capão Redondo"
ZECA BALEIRO
cantor, dizendo que a reação do apresentador não seria a mesma ao presenciar um crime na periferia da cidade.

Um comentário:

Resumo disse...

Márcio,
se o Luciano Huck não soube se expressar, parabéns... pq vc soube!!!

Excelente texto.

Abraços,
Ju