quinta-feira, 11 de outubro de 2007

FILOSOFIA DA VACA

Por Isabela Calil.

Situação inusitada. Enquanto eu leio sobre filosofia a caminho do estágio, um menino entra no ônibus pedindo dinheiro. Nada de surpreendente na vida do menino, que estava sendo ameaçado junto com a mãe e a irmã de despejo porque não tinham pagado o aluguel. O dinheiro era curto, algumas necessidades básicas estavam comprometidas, etc. Não há nada de original nessa história.
Nada de original, mas muito de absurdo. Aquele jovem é mais um que fará coro frente aos invisíveis da sociedade. É o típico caso de estar tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Um paradoxismo difícil de ser vencido: a presença e a ausência. As leis da física newtonianas não permitem essa contradição. Porém, as leis sociais, sim.
E nesse novo mundo de sempre as pessoas são tomadas pela síndrome do pouco. Ajudam pouco, esperam pouco, se doam pouco, vivem pouco. Só o que interessa é dizer “eu fiz minha parte” e assim se eximir de qualquer culpa. Que parte cara pálida? Dar R$ 1,00 a quem tem fome é lá fazer alguma coisa? O mundo está caótico, mas todo mundo faz a sua parte. Brilhante! É a era da mediocridade. Enquanto podemos pagar seguranças, carros blindados ou viver em condomínios fechados não há o que temer, estamos seguros dentro de nossas gaiolas, reféns da nossa parte que não foi feita. Nietzsche possivelmente diria que tudo isso é um enorme chafurdar em águas rasas.
Triste realidade a que vivemos. Enquanto uns estudam filosofia outros estudam uma maneira de sobreviver. E a filosofia, que procura achar respostas para um mundo conturbado, não é capaz de solucionar um dos problemas mais antigos da humanidade: a falta do pão. Como mostrar para um garoto que a filosofia teria alguma serventia na vida dele? Como dizer para ele “estude, você pode ser alguém”? Bertolt Brecht passou pela minha cabeça, “Elogio do aprendizado”, particularmente a frase “Você que tem fome, agarre o livro: é uma arma”. Mas como partir para a luta empunhando uma arma sem nunca tê-la manejado? Como não acabar dando um tiro no próprio pé? O que é a filosofia para os que têm fome?
Depois desse meu devaneio, desse discurso pra lá de batido, nada vai mudar. Os planetas terão a mesma órbita, os países não mudarão de lugar e os que têm fome continuarão com um buraco no estômago. A vidinha continua. E eu também preciso ir.

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