sábado, 26 de fevereiro de 2011

Lobão - 50 anos a Mil



Numa época em que se escreve biografia de artistas com menos de 18 anos (de vida) e de bandas inexpressivas e que o Tempo, espero, fará o favor de nos fazer esquecer, a história do cantor, compositor e músico João Luiz Woerdenbag Filho, o Lobão, é um alento.

Mas não é só por causa de sua vida polêmica, o uso de drogas, sua prisão, as tentativas de suicídio, as brigas com a indústria fonográfica e os atritos com Herbert Viana que Lobão merece ter sua vida transformada em livro. Nem tampouco por suas belas músicas e letras.

Lobão merece uma biografia porque fez história. Lobão é história. E o Tempo, aquele mesmo para o qual dirijo preces esperançosas no início desse texto, passou depressa e as novas gerações, tão conectadas e interativas, mal sabem quem ele é e o que representa.

Lembro de ter ido a um show de rock qualquer, há alguns anos, e uma garota empolgada na platéia, pouco antes da apresentação, comentava com um grupo de amigos que ouvira no rádio uma "música estranha" que dizia "Blá, blá, blá, eu te amo". Fiquei chocada: ela não conhecia Lobão! É para ela e para sua geração que "Lobão, 50 anos a Mil" se torna obrigatório.

Ler "50 Anos a Mil" é como estar num papo descontraído com o próprio músico. Mesmo que só ele fale. A narrativa é intensa, às vezes prolixa, e Lobão não poupa o dicionário para descrever com suas palavras contundentes os fatos sob a perspectiva de um senhor que viu e viveu de tudo um muito.

Vale mencionar que a parceria entre Lobão e o jornalista Claudio Tognolli, que assina com o músico a autoria do texto, foi um sucesso. Enquanto Lobão mergulhou no passado para rememorar sua história, com seus erros e acertos, Tognolli fez o papel de organizador do material. Tanto o jornalista como a editora foram felizes em manter a narrativa com as características únicas do discurso verborrágico do músico.

Lá estão, como era de esperar, os momentos difíceis na vida, as conquistas, os altos e baixos da carreira, as rixas, as bandas e músicos com quem tocou e conviveu, os problemas em família, as dores e os amores. Espanta saber como foi sua primeira masturbação, assim como encanta conhecer mais sobre uma personalidade tão intensa.

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