domingo, 20 de dezembro de 2009

The Beatles e a Bravo!

Acabei de chegar, com muito receio, à última parte da biografia “John Lennon – A vida”, de Philip Norman (abaixo). O livro é simplesmente excelente. Tanto pelas inúmeras histórias, quanto pelo belíssimo texto (muito bem traduzido) de Philip. O fato é que, já há algum tempo, torcia o nariz para biografias pela simples razão de que, do meu ponto de vista, não haveria isenção no texto. Seriam elas (as biografias), em sua maioria, tendenciosas. E realmente são.


Prova disso foi minha primeira visita a este campo. Aventurei-me lendo a história de Tim Maia, escrita por Nelson Motta. Gostei, apesar do fino trato humorístico dado às desventuras em série de Tim em relação ao não comparecimento aos shows, por exemplo. Li, então, a semi-biografia de Ricardo Kotscho (Do golpe ao planalto – uma vida de repórter), escrita pelo próprio. Histórias sempre fantásticas e inspiradoras em tanto tempo de profissão (sobretudo nesta profissão). Mas a isenção foi posta de lado (mais uma vez) , afinal, estamos falando de uma autobiografia.

Na história de John Lennon a cena se repetiu. Mas em uma baixíssima escala. Tanto é verdade que, muito do que eu cultuava sobre o finado, foi colocado em xeque através das histórias narradas por Philip. Tanto que nem Yoko Ono gostou muito do que foi escrito (desculpe, Yoko). Outra verdade impressionante é a riqueza de material e detalhes apresentados no livro. Entrevistas e declarações de Bob Gruen, Elton John, Tia Mimi, Yoko e tantos outros.

O livro traz as diversas faces de Lennon. Desde o liverpudliano normal, capaz de vivenciar a day in the life, até o mais louco e psicodélico beatle viajando na onda do LSD e vendo marmalade Skys. Tudo isso muito bem linkado ao contexto histórico de cada época vivida. Um capítulo à parte é reservado para as pequenas histórias sobre cada coadjuvante, que ajudam a entender e digerir melhor as ações e reações de John. Pode parecer piegas ou ingênuo da minha parte, mas a publicação traz muito material não divulgado e passa a limpo histórias mal contadas que se propagaram desde a morte de John.

A grande chatisse de se ler biografias é que você já sabe que a personagem morre no final. Mas até lá, a leitura é garantida e realmente acrescenta algo novo e exclusivo sobre a história dos fab four. Aliás, aí é que está o ponto crucial. Exclusividade. No final do mês de outubro a revista Bravo! publicou uma edição especial sobre a história do quarteto de Liverpool (ao lado). A história é dividida em alguns subtemas interessantes como “Impacto no show business”, “Revolução nas letras e músicas” e “Influência no comportamento”. Contudo (em tudo há sempre um porém), nada de novo. Nadica de nada. As mesmas histórias, as mesmas fotografias, os mesmos discos. É pouco? Não, não é. É bem escrito? Mais do que bem escrito. Mas a verdade é que quem lê uma biografia como a de John fica meio entendiado com os periódicos comuns lançados por aí.

Essa história toda me fez perceber, realmente, como o mundo, tal qual aconteceu em meados de 60, está carente de bons moços. De bons garotos. De esperança e outros adjetivos similares. Perdidos nessa realidade antibiótica os Beatles parecem renascer para renovar a fé de cada nova geração, de cada novo(a) adolescente que surge. A cada nova playlist onde estão inclusas ”I feel fine”, “Can’t buy me love” o olhar volta a brilhar. O mais engraçado é que, em contrapartida desse lado bonzinho e até ingênuo representado por Lennon, McCartney, Harrison e Starr, estão também os cabeludos ácidos e críticos, prontos para a explosão, tal qual se vê em canções como “Revolution”, “I am the walrus” e “Nowhere man”.

Enfim, seja pela esperança no amor ou pelo desejo de mudança, os Beatles continuam vivos. E eu sigo por aqui, entre biografias, Bravos!, Guitar Hero e discos remasterizados. Brian Epstein deve estar se contorcendo no caixão neste momento. Fazer o quê? A indústria da música não pode parar.

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