domingo, 29 de novembro de 2009

Lula, o Filho do Brasil (e da Mãe!)


O filme brasileiro mais badalado do ano só estréia nos cinemas no começo do ano que vem. Muito poucos o viram até agora. Mas "Lula, o Filho do Brasil" já deve ser o filme mais lido do cinema brasileiro.

Há meses, jornais, revistas e portais de internet escrevem todo dia quilômetros de textos para falar do filme - falando bem ou mal, não importa. Todo mundo acha que tem a obrigação de escrever sobre o filme. Nas cartas e comentários de leitores que ainda não viram o filme de Fábio Barreto, também não tem meio termo: Lula sempre desperta amor e ódio na mesma medida, qualquer que seja o enredo.

Já que é assim, também resolvi hoje escrever sobre o assunto, embora só vá assistí-lo no próximo ano.

"Lula, o mito, a fita e os fatos" é a capa da Veja desta semana. Mostra Lula com cara de bravo e o ator que o interpreta no filme fazendo um inflamado discurso do tempo em que o hoje presidente era líder metalúrgico.

A chamada de capa já resume o que a revista julga a respeito: "Pago por empresas privadas com interesses no governo, o filme sobre a vida do presidente é um melodrama que depura a sua biografia, endeusa o político e servirá de propaganda em 2010″.

Será mesmo? A esta altura, o que menos interessa é a obra cinematográfica - a direção, o roteiro, a fotografia, os atores -, mas o uso que se fará dele no ano da eleição presidencial, embora o filme termine antes de Lula iniciar sua carreira política.

Tenho para mim, e até adversários severos de Lula concordam, que o mito já está criado faz tempo, e o filme dificilmente terá o poder de mudar o que os brasileiros pensam a respeito deste personagem improvável na cena política brasileira.

Como tudo virou um Fla-Flu no Brasil quando se trata de governo e oposição, acho difícil alguém mudar sua opinião sobre Lula - e mais ainda sobre a sua candidata Dilma Roussef - só porque uma ou outra cena não corresponde exatamente à vida real, assim como ninguém vai mudar de time por causa de um artigo de revista ou jornal.

No governo não se fala de onde saiu o dinheiro para fazer o filme “Lula, o filho do Brasil”. Patrocinado por um grupo de 18 empresas, entre elas três empreiteiras que tem negócios diretos com o governo federal.

As empresas doaram ao todo, R$ 10,8 milhões e, numa ação incomum no mercado, não terão o direito de descontar o patrocínio no Imposto de Renda, como permitiria a Lei Rouanet. Das 18 empresas doadoras, quatro fizeram “doações ocultas”, como se diz nas campanhas políticas, ou seja: se recusaram a aparecer na lista de patrocinadores oficiais do filme.

Entre eles estão as construtoras OAS, Odebrecht e Camargo Corrêa e as montadoras Volkswagen e Hyundai. Na lista ainda aparecem a empresa francesa de energia elétrica GDF Suez, Souza Cruz, Ambev e até (acreditem!) o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, do Sistema S).

As empreiteiras tocam grandes obras financiadas pelo governo federal. A Odebrecht faz parte do consórcio encarregado da construção da usina hidrelétrica de Santo Antônio. A Camargo Corrêa participa das obras da usina de Jirau. A OAS executa obras do PAC.

Portanto, são empresas que não põe prego sem estopa, o que sai de seus cofres deve voltar com grande margem de lucros.

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